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sábado, 29 de maio de 2010

Uma da tantas histórias de vida que passam pelo espaço escolar

Alexsander Batista e Silva

Gabriel é o nosso personagem principal. Tem doze anos e mora com a mãe, o padrastro e duas irmãs mais novas. A mais velha de oito anos e a caçula de seis. Apesar de gostar do padrasto, sente falta do pai, que nunca chegou a conhecer. Gabriel tem uma vida difícil e desde cedo teve que assumir responsabilidades de gente grande. Cuida de suas irmãs, organiza o almoço, estuda e trabalha.

Seu cotidiano tem lhe furtado um pouco as coisas de criança, como por exemplo o ato lúdico da brincadeira. A qual tem acesso em parcos momentos na escola e no jogo de bola na rua de sua casa aos fins de semana. De segunda a sábado tem obrigações a cumprir. Como sua mãe e o padrasto saem de madrugada para trabalhar, Gabriel fica tomando conta de suas irmãs, além de ser responsável por requentar a comida da janta que fica para o almoço. Ao meio dia em ponto tomam banho, almoçam e partem rumo a escola, são trinta e cinco minutos de caminhada, a maioria das vezes sob um sol escaldante. Mas eles não reclamam, gostam de ir à escola!

A escola para Gabriel é um lugar onde ele se liberta das responsabilidades do dia-a-dia – cuidar de casa e das irmãs. É um espaço onde ele encontra seus amigos, faz gracejos para as meninas, tem acesso a algumas brincadeiras, e ao computador e internet (que lhe atraem muito, mas que não tem grande intimidade!). A despeito de tudo isso, seu desempenho escolar não tem sido satisfatório. Foi reprovado ano passado – tinha que decorar um monte de datas, nomes de rios, eram um tanto de cosas estranhas...que não conseguiu memorizar -, e ainda no primeiro bimestre do corrente ano, sua mãe já foi convocada duas vezes para ir a escola tomar ciência dos problemas de Gabriel. Primeiro por não ter feito tarefa de casa (estava cuidando de casa e das irmãs e entretido com desenhos animados na TV esqueceu, seguidas vezes, de fazer tarefa). Na segunda vez que sua mãe compareceu á escola comunicaram-lhe que havia brigado com um colega de sala, que o zombou por conta dos sapatos furados, em que dedão do pé esquerdo ficara a mostra.

Gabriel todas as quintas-feiras sai da escola, leva as irmãs em casa e se encaminha à feira livre do setor, onde é vigia de carros e motos. Com os trocados que ganha, compra chocolates e pirulitos, vai a lan-house, já comprou uma bola e está juntando dinheiro pra comprar uma bicicleta. Mesmo mergulhado no mar adversidades que caracteriza sua vida, Gabriel é um menino alegre, que fala do futuro com entusiasmo e brilho nos olhos, principalmente quando relata o sonho de ser jogador de futebol e se não der, diz que vai ser então mecânico de computador.

Ah, já havia me esquecendo, por ficar parado, com a mão no queixo e com olhar a se perder no tempo e espaço durante as aulas, nosso personagem é chamado pelos colegas de sala de GABRIEL O PENSADOR. No entanto, o consideraremos como GABRIEL O PROVOCADOR!

Essa é apenas uma, de muitas histórias de crianças que habitam e estudam em uma escola pública dessas tantas periferias espalhadas pelas grandes cidades do Brasil.


terça-feira, 25 de maio de 2010

A revanche alegre da periferia

Alexsander Batista e Silva

O espaço geográfico é por natureza heterogêneo. Os objetos e ações que o compõem, distribuem-se de maneira desigual. A população como um elemento do espaço, também segue essa regra. Dentro de um único país, estado ou mesmo município, verificamos grandes aglomerados populacionais e vazios demográficos. Numa única cidade, por exemplo uma metrópole como Goiânia, é possível observarmos a existência de espaços que dispõem de infraestrutura urbana e outros totalmente desprovidos. Dessa distribuição irregular, principalmente, de infraestrutura e empregos, sugem dois espaços tão distintos o centro e a periferia. O espaço da periferia, é caracterizada por não dispor de saneamento básico, asfalto, serviços como bancos, hospitais, boas escolas etc., equipamentos de lazer, emprego, entre outros. Diante de tal carência, precariedade, e pobreza, poderíamos pensar que a periferia fosse um lugar de grande tristeza, da barbarie, sem esperança, engessado... mas felizmente isso não ocorre! A despeito de todas as adversidades que lhe são impostas, a periferia apresenta à cidade o verdadeiro sentido da cidade – lugar do encontro, da festa e da troca. Por força da realidade, pela pressão social existente pipocam por toda a periferia exemplos de vida coletiva, solidariedade, criatividade, alegria! Em suma, a periferia é o locus da vida alegre e criativa em meio ao mar de concreto da cidade grande. No movimento diário de luta pela sobrevivência ela produz espaços de resistência que soam na metrópole como gritos políticos que exigem condições materiais dignas á produção e reprodução da vida humana.